terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Montanha


Politicagem, lobby,chantagem, repressão policial e iminência de golpe militar– esses são alguns dos infelizes elementos presentes na escalada do poder que Cyro dos Anjos retrata em Montanha, romance originalmente publicado em 1956 e que a Biblioteca Azul agora devolve às prateleiras em nova edição, organizada por Wander Melo Miranda.
Ocultando personalidades reais do cenário político e social brasileiro sob nomes fictícios, o autor dos já clássicos O amanense Belmiro Abdias narra a trajetória de Pedro Gabriel, político que, à sombra do fim do Estado Novo, almeja ascender ao governo da fictícia Montanha. Ronda, no entanto, a ameaça de um novo golpe militar, que pode colocar a perder todos os avanços obtidos na administração do Brasil, que aparece, aqui, com suas divisões administrativas, sua história e sua geografia embaralhadas.
A partir do incrível domínio narrativo de Cyro dos Anjos, ficamos conhecendo, de várias perspectivas e sem apelo ao panfletarismo, o que se passa na mente de todos os participantes desse intransigente jogo político: colegas parlamentares, inimigos de púlpito, jornalistas, militares, parentes, esposas, amantes e até mesmo o mais simples dos eleitores de Pedro Gabriel.
Tido como "total novidade em nossas letras” por Carlos Drummond de Andrade devido à maestria literária e ao acurado retrato psicológico dos atores políticos da realidade brasileira de então, Montanha surge-nos novamente não apenas como quebra-cabeça do quadro politico nacional pós-Getúlio Vargas, mas também como um imensurável e mordaz exame psicológico do cidadão democrático – especialmente das personagens femininas, como Ana Maria, Emília e Cláudia, aprisionadas entre um já obsoleto senso de dever familiar e a possibilidade de emancipação com a chegada de tempos mais livres.
Fonte: Globo Livros

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